domingo, 19 de maio de 2013

Sobre o texto Amor e Morte (Enrico Ferri)


                   O sucesso de um discurso depende de três fatores para Aristóteles: ethos, logos e patos. No texto Amor de Morte de Enrico Ferri, uma passagem que representa o fator ethos é “... que foi reunir-se ao outro cumprimento ao outro cumprimento, que aqui me dirigiu o representante da parte acusadora, dizendo que quando o doente recorre a um médico de fama, é porque sente a saúde muito abalada,...”. Uma passagem que representa o fator logos “E não posso admitir que os jurados – na soberania intangível das suas consciências – possam proferir um veredicto contrário a Lei porque isso seria a subversão de todos os princípios da vida social. Os jurados – como os Magistrados técnicos – só podem proferir o seu veredicto de acordo com aquelas normas de justiça humana, fixadas na sua consciência honesta pela experiência de vida, como pais de família, como pessoas que, com o seu trabalho cotidiano, contribuem para a vida dessa imensa e infatigável colmeia humana, que é a sociedade dos homens”. E uma passagem que representa o fator patos “Vejam, senhores jurados, como a personalidade de Cienfuegos se vai delineando e precisando no vosso espírito. É um bom rapaz que teve a infelicidade de cair no abismo do amor por uma mulher de costumes tão desregrados. Ele foi enlouquecido, é um desventurado, mais não é um criminoso. Não é um assassino que amanhã repita o mesmo ato. É um homem que como um náufrago caído a beira do oceano que estava para engoli-lo, ao voltar outra vez à vida, recordará, como uma lição salutar, essa ilíada de desastres, de tormentos de ansiedades e pedirá ao trabalho a sua redenção social.” Dentre as diversas passagens do texto de Ferri temos esta para se referir à emoção “porque o amor e a honra são paixões nobres, humanas, generosas, e só por aberração momentânea geram o crime ou o suicídio, ou uma e outra coisa. Até o amor de mãe, que é aquilo que de mais sublime o coração de uma criatura pode dar, na nossa existência de esperança e de dor, até o amor maternal pode conduzir ao crime! Mas a mãe é absolvida porque o amor materno é a mais nobre, a mais moral, a mais admirável das paixões humanas, e se, na sua aberração, leva a matar o concorrente do filho, a roubar ou a incendiar, para salvar o filho de um pretenso perigo, a mãe é absolvida, e não conheço juízes populares ou togados que, em tal caso, condenem”. Por outro lado, temos esta para representar a razão “estou certo de que esta segunda forma do sentimento humano está no espírito de todos, porque aquele rapaz é bem mais desventurado do que criminoso. E é por isso, se é esse o estado do vosso espírito, nesta altura do julgamento, a minha função só pode ser uma, bem modesta por sinal: determinar, à face do processo, as razões pelas quais, com a tranquilidade de consciência das pessoas honestas, poderá proferir um veredicto de absolvição. É esta a tarefa que me impõe os fatos e que sempre me impõe a minha consciência: porque eu julgo que, tanto na vida social quanto na vida judiciária, dizer a verdade, talvez seja um luxo dispendioso, mas é também o melhor caminho, não só para poupar tempo a quem tem muitas outras coisas a fazer, e que terá, assim, de recordar-se de todas as mentiras que teria de aquietar, como também porque em substância, quando o palpitar das coisas é como o deste caso, expor por inteiro, clara e limpidamente, a verdade, ainda é a forma mais persuasiva da eloquência”. Verifica-se que diversas falácias podem ser encontradas ao longo do texto como apelo à piedade (“O Ministério Público deveria, realmente, recear, não a sugestão da minha palavra, mas a sugestão dos fatos, a sugestão dos sentimentos, a sugestão da vida anterior do réu, a sugestão de toda a personalidade desse pobre farrapo humano, que está na vossa presença com as mãos e o peito ensanguentados”), generalização apressada (“Mas a mãe é absolvida porque o amor materno é a mais nobre, a mais moral, a mais admirável das paixões humanas, e se, na sua aberração, leva a matar o concorrente filho, a roubar ou a incendiar, para salvar o filho de um pretenso perigo, a mãe é absolvida, e não conheço juízes populares ou togados que, em tal caso, condenem”) e apelo às circunstâncias (“É só no momento fatal e funesto da ação fulminante, que a ideia preconcebida do suicídio determina imprevistamente a ideia de morte também do outro e o desesperado amante resolve, logo suicidar-se, mas matando primeiro, porque deixaram de funcionar os freios da sua vontade”). Ferri utiliza-se de muitos argumentos jurídicos como ad hominem (“Mas Cienfuegos – Como todos os meridionais ardentes – é também, um homem extremamente ciumento”) e ab auctoritatem (“Amore e morte, fratelli insieme, ingeneró la sorte” Giacomo Liopardi). Em relação ao argumento de autoridade este é constatado no texto “foi Carrara um grande criminalista italiano, quem disse: É preciso ver se as paixões são cegas ou permitem raciocínio. As paixões que dão tempo e possibilidade de raciocinar, não tiram a responsabilidade: as que cegam o clarão da razão produzem a irresponsabilidade. Esse critério aproxima-se um pouco mais da justiça humana, mais ainda não é o verdadeiro”. Disse mais Carrara: “São paixões cegas o amor e o medo, são paixões raciocinadoras a vingança e a cupidez”. A defesa baseou-se mais na lógica da argumentação. Assim procede, porque é citado o mundo dos valores e das realidades humanas, visando à adesão dos jurados a tese que ele expõe:
“O amor sensual amolece a vontade do homem, torna-a enferma. Se sobre essa vontade pouco firme atua o trágico impulso de uma desilusão de amor, de um mundo que se derruba, falar em responsabilidade normal é proferir uma heresia, contra a mais evidente verdade humana.”
“Digam a esse rapaz, digam a Cienfuegos, que o amor não é crime, que o amor é a grande beleza da vida, mas que os excessos do amor levam as aberrações do amor e que esses excessos e essas aberrações arruínam os indivíduos e os povos”.

9 comentários:

  1. O blog está ótimo! Parabéns aos alunos que o fizeram! Os vídeos, as imagens e as notícias deixaram o site muito interessante! Gostei! - Alana F. Azevedo

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  2. adorei o blog... as imagens e os vídeos estão bem legais, os texto estão bem didáticos!
    * amei a imagem de fundo - clássica!
    parabéns ao Tribunal Acadêmico!
    Tatiele Freitas

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  3. Muito bom, excelente o blog. Com linguagem coerente, conteúdo de qualidade e uma bela estética. Parabéns a todos que fizeram!

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  4. Parabéns pelo blog, bem estruturado, de fácil leitura e entendimento.
    Parabéns principalmente a oritentadora

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Sobre o texto Amor e Morte de Enrico Ferri, ele dá uma aula de argumentação. Dentro de sua tese defensiva, inclui várias argumentações e ilustrações que geram um alto nível de persuasão, fazendo que os jurados acreditem na inocência de Cienfuegos, partindo da imagem manipulado, volúvel e interesseira de Bianca Hamilton. As comparações dos níveis de amor, tornam Cienfuegos uma vítima do destino e da manipulação de Bianca, e escondem o seu carater agressivo. Crimes passionais são crimes cometidos por um suposto amor, mas ainda assim são crimes. Mas Enrico Ferri soube ministrar os fatos e fazer de Cienfuegos vítima ao invés de carrasco. Uma aula de argumentação e oratória.
    Parabéns pelo blog e pelos textos de alto nível.

    Ana Carolina Tavares

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  7. Muito bom o blog! Gostei muito , os textos estão ótimos! - Vitor A. Espindola

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  8. O blog deixou bem claro o que pensam seus respectivos autores, fazendo com que o público leitor possa questionar e pensar sobre o tema tratado.
    As divisões em tópico não poderiam ter ficado melhor, pois os autores souberam dispor e organizar o assunto adequadamente de forma que fique didático e de fácil compreensão.
    Gostei muito da epígrafe "Amor e crime nasceram gêmeos, inseparáveis como o corpo da sombra”, pois é o resumo de tudo o que foi tratado no texto.
    Parabéns aos alunos que fizeram o blog!

    Marinara Montanari

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  9. O blog deixa muito claro o poder de persuasão que Enrico Ferri possui perante o tribunal do juri. Atualmente seus argumentos não seriam muito fortes para colocar Cienfuegos como vítima de um homicídio praticado por ele. Parabéns aos integrantes do blog, o texto está bastante coerente e um fácil entendimento.

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